quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Eu, eu mesmo e o magistério

No último dia 15 de outubro, comemoramos (ou não) o dia do professor. Recebi algumas manifestações de carinho através de mensagens, publicações nesta linha do tempo e muitas marcações em “posts” genéricos (aqueles automáticos que permitem lembrar sem a necessidade de escrevermos um texto e não darmos conta do sentimento, afinal de contas as palavras vão e o que sentimos fica).
Como professores, sabemos que afetamos nossos alunos. Alguns se lembrarão de nós como possíveis transformadores e inspiração para suas carreiras acadêmicas e profissionais. Outros farão questão de nos esquecer por motivos variados. Assim é a vida. Não há possibilidade de agradar a todos que passam por nós nas salas de aula da vida. Contudo, o que não pode haver é a indiferença, o pior dos comportamentos.
Dentro das várias mensagens, havia muitas referências que, sinceramente, faço questão de negar. A negação se deve ao fato de eu não querer nada além daquilo que pertence ao meu ofício. Não quero ter o salário de um deputado. Não quero ter o prestígio de um jogador de futebol. Não quero ter privilégios. Não quero ser o único a não ajoelhar diante do imperador. Não quero ter as outras profissões vinculadas exclusivamente a mim. Não quero ser resumido a piadas ou lugares-comuns como insatisfação salarial, vocação e missão.
À moda de Manuel Bandeira e sua “nova poética”, quero apenas condições básicas de trabalho; possibilidade de construir aulas transformadoras sem a patrulha ideológica; desejo também ver nos espaços educacionais o respeito entre os docentes dos diversos níveis, uma realidade bem distante, pois é muito comum vermos o tratamento preconceituoso sofrido pelos professores da Educação infantil e do Ensino Fundamental. Em uma espécie de antropofagia “magisterial”, professores do nível superior desprezam os do nível médio que desprezam os do nível fundamental; quero também ver o respeito aos pedagogos, e o fim das piadinhas de que “quem não sabe, critica” ou “é fácil falar quando não se está em sala de aula”; quando veremos a formação desses colegas respeitada?
Como é pertinente a meu ser, sempre tendo a observar o copo meio vazio, não vejo muitos motivos para comemorarmos a atuação no magistério. É difícil comemorar ou fazer festa, quando vem à mente que muitos colegas de profissão trabalham dois turnos e recebem menos do que UM SALÁRIO MÍNIMO; que muitos colegas de profissão são agredidos todos os dias física e simbolicamente; que houve um corte significativo das verbas do programa de formação docente; que todos os dias as licenciaturas são massacradas e ameaçadas de fechar; que muitos colegas da rede particular exercem sua profissão sob ameaça constante de demissão, caso não façam o jogo quase sempre clientelista da educação privada; que há professores que trabalham mais de 60 tempos por semana a fim de ter um rendimento mensal razoável; que há professores que foram espancados, humilhados e presos por manifestarem sua insatisfação com os rumos e a qualidade dos serviços educacionais oferecidos pelo Estado a seus contribuintes. Enfim... há muito mais motivos para protestarmos do que para festejarmos.
Peço desculpas por este tom discursivo pautado pelo niilismo e agradeço profundamente todas as mensagens recebidas. Espero que entendam as palavras ditas aqui e que permaneçam na luta política e pedagógica.

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