domingo, 23 de fevereiro de 2014

Minha moda

Um tema… o ponteiro a girar (o funcionamento transcende a bateria)… e a difícil-prazerosa necessidade de redigir. Por assunto a leitura. Sem texto, sem tempo, sem pompa, me vejo na obrigação de tomar uma condução e ir para a faculdade (estudo e sustento). Facilidade e economia: o trem. Neste comboio (que não é o de cordas), foi resolvido o primeiro problema (entende-se pela rima). No meu vagão, pasmem, pois pasmei, havia nove livros abertos [com o meu velho e amarelo (não é amarelo de velho; a capa amarela e a folhas também) Brás Cubas, contávamos dez]. Assombrado, me levantei e percorri os outros seis ou sete vagões daquela composição, percebi que a média era ainda maior. A cada vagão, o número de livros abertos subia. Então, loucura de letrando, resolvi captar os títulos (como é sempre difícil lembrar todos os nomes, me perdoem a mescla autor-título) inumeráveis: Augusto Cury, Pe. Marcelo Rossi, Crepúsculo, Harry Potter, Bruna, a surfistinha, quadrinhos, Coquetel, pelo menos uns 30 títulos parecidos como Seja feliz em trinta dias (pare de fumar em… deixe de beber em… tenha um orgasmo em…). Não posso deixar de mencionar que alguns livros abertos (ou quase livros, porque eram xerox) transpareciam preocupação e desespero (possivelmente leitura obrigatória para trabalho ou prova). Não escreverei mais nomes, senão o escrito se torna infinito. Depois desta vagueação antropológico-literária, tive uma importante constatação para um país conhecido por seu alto índice de analfabetismo: “Ler é fashion”. Cada um se veste como pode, cria, inventa, customiza, revira o armário. Uns usam Armani, Lacoste, Luis Vuitton… outros, as peças vendidas em lojas de baixo custo. E daí?! a moda é minha, o estilo é o homem. Tenho, nestas últimas palavras, a exata sensação de que meu livro velho-amarelo equivale exatamante ao meu all star (surrado e preto), minha camisa amarela e meu jeans. A roupa dos outros livros abertos é questão de imaginar.


P.s.: Este texto foi publicado primeiramente no blog 
http://lerefashion.wordpress.com/

Perdi o tempo

Lá se foi a poesia
no tempo
passei a vida
passarinho-tristeza

no bolso, um acorde
sem canção
a letra
no vazio
coração
veia
teia
trama
viva
construída