sexta-feira, 28 de agosto de 2009

outro

se admitir, termina
a procura não se finda
iniciada, deixa pedaço em mim
sem fim...

o olhar que disfarça
se mostra
a chuva não vem, o tempo
não abre
sem paz
você foge
procuro outro lado.

se-r-es

será que é permitido ser
o que se deseja ser?
expressar, se expor: ser, pensar
e sentir
tudo é como querem, todos são como se querem
pensamentos,
sou tua imagem refletida em mim...
meus olhos enquanto dormem, observam
a libido esta aí, passear pelo antagonismo
de mim mesmo e
ser somente sendo o que se quer ser sendo

um título (untitled)

cansar de ser, de viver o que não se é
olhar e não ver o visto, pois é
a menina está do outro lado
viva, viva!
flor no jardim da frente
respira, respira!
dançar sem mover-se
viver sem perder-se
e chorar
a mágoa, o mundo me trouxe
jogo em mim, toda aquela miséria
dizer, não crer, viver (outro) ser, sem ser
e pronto.

pensar

hoje,
não foi como planejamos
brigas - pra lá do outro lado
largo, profundo é meu ser
sereno, assaz sereno é ter paz
o abismo entre nossos lábios
se desfaz pela ponte de
nossos espíritos
se não foi, é possível
se a vida se deu, em mim em ti
se olho para fora esqueço

(dentro)

amanhã...

eu-mundo

quem sou eu
no mundo
o que é o mundo
em mim
o mundo é meu
pois sou o mundo
o mundo sou eu
não estou no mundo
sou o mundo meu
o mundo
não me entendeu
teu mundo não é meu
meu mundo foi teu
sou teu
o mundo explodiu
com olhares atômicos
palavras nucleares
odioativas
desmanchando
o jogo.
o mundo acabou

o mundo morreu.

problemas, soluções, palavras, dores-amores, mundo e você...

um buraco na alma
um enorme buraco na alma
um buraco enorme na alma
na alma um enorme buraco
na alma um buraco enorme
vazio
dor
fome
no buraco da alma
sem ozônio ou CFCs
apenas existe
sem tamanho exato
sem raio ou diâmetro
sem luz, sem som
sem suor, sem vida
buraco
silêncio
tempo
fim
recomeço

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

vem vambora

Se eu tivesse algo a dizer sobre um “coração leviano”, talvez contasse como se faz para se deixar enganar. Todo doce é mar. Felicidade é objetivo de todo coração passível de engano e que espera um bem. Porém esquece-se que leviano coração não será de ninguém. Rascunho estas palavras, porque não tenho viola... nem talento. Mas me envolvo. A paixão. Com paixão. Sei que não me atualizo e que não uso rebuscamento... (acho desnecessário usar vocábulos que aferem qualquer tipo de conotação... não que não goste de ambiguidade ou requinte estético... na verdade, não tenho saco ou tecido epitelial rugoso). Melancolia... para os fracos e tísicos... prefiro Antártica (-3,5). Já poetizei (mal)... sambei e até esqueci que não venho mais de lugar nenhum. Se o décimo primeiro andar faz refletir, também traz o medo... a altura e o resfriado... divulgação de quê e para quê... ouço problemas que não são meus e ainda guardo tempo para a falta de tempo alheia... brinca-se com os sentidos sem sentido. Por falar em sentir... carnaval não espera mais... sai à rua e pula e dança e ri. Mas não se atira na Lagoa Rodrigo de Freitas. Sou gente. E posso até dizer que “sou assim”... o problema é que também sou assado. Contudo posso dizer que não fiz parte nenhum batalhão... e não quero falar de flores nem de caixão... meu problema é não ter “pressentimento”... meu poema virou amor... bem diferente daquele que findou-se... estranho mundo-cão... no qual todos se usam, não reciclam... trocam e destrocam como se fossemos presentes de lojas chiques e chiliques... e aqui termino... sem saber como terminar... porque não começou... nem durou... nem sonhou... porque “hoje quero apenas uma pausa de mil compassos”... “um samba sobre o infinito”.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

entre

essencial em mim
amor sem fim
emana de ti
e em ti por fim
vidas afins
nós, querubins
em paz
versos, clarins
eu, sim
tu, sim
nós, um
bolo, pudim
festa, cavaquin...
samba, pagodin...
"alguma poesia"
canto e passarin...
sós, enfim
por um tempin...
mãos, pés...
riso, beijin...

quarta-feira, 22 de julho de 2009

il nome d'amore

Ao som de “same mistake”, tenho a pretensão de rabiscar algumas-outras palavras acerca do amor. Percebo o quanto a música é penetrante e inebriante... travou meus sentidos. A escrita vai pelo mesmo caminho... iludida pela falsa sensação de suspensão, a mente cala. Não sei se são sempre os mesmos erros... ou os mesmos pedidos de perdão ou as falsas promessas... mas a vida vai. Olho em volta e não me vejo... nem te vejo... nem nos vemos... ou somos um sonho... ou sonho. Ontem enquanto dormia, observei teu semblante (de um modo diferente)... e vi (na covinha de teu rosto) tanto amor que por um instante flutuei... talvez seja a idéia de “outono” e a falta de verbo. Naquele exato momento, me lembrei que a linguagem não mais oferece (se é que já ofereceu) vocábulo que dê conta do que sentimos... e tudo se resume ao que vi naquele espaço minúsculo de teu rosto. Ao passo que desprezo as ações humanas, lamento o fato de as pessoas não poderem sentir o que somos e temos... viver o que vivemos... infeliz o humano que não tem ou teve amor... infeliz o humano que precisa ter amor... pois não tê-lo é a desgraça maior... pior que não nascer é não amar (mútuo)...

Sou ridículo, risível, porém feliz... palhaço, mambembe... esqueço o mundo, alieno-me... sem maiores obrigações... canto... não faço exageros... não cometo usuras... nem loucuras... um amor não pode ser isso, como não pode ser aquilo... mas há de ser isso e aquilo... segue uma toada, que não precisa necessariamente ser monótona... muito menos corriqueira, rotineira... muda-se o tom... improvisa-se... posso dizer que está tudo certo... que está tudo bem... quem o saberá?... essas coisas não se sabem... se sentem... já disse isso em outro lugar... que não aqui...

Será que podemos fazer um mundo melhor?... sei lá... não podemos ter “o sentimento do mundo”... aliás, podemos sim... comprei-o na última semana... queria que os demais seres pudessem captar o que se passa no momento em que nossos olhos se concentram uns nos outros... talvez pudesse soar como uma bomba H de efeito benéfico... infelizmente os químicos das indústrias bélicas americanas ou iranianas não são capazes de causar tal bem à humanidade... contudo, nessa troca de olhar cabe o mundo e, ao som de Oasis, posso dizer que em e por nosso amor “All Around The World, you've gotta spread the word/ Tell 'em what you've heard/ You're gonna make a better day/ All Around The World, you've gotta spread the word/ Tell 'em what you've heard/ You know it's gonna be okay*”.

*os versos pertencem à música “All around the world”, Oasis

sexta-feira, 26 de junho de 2009

o que vi e ouvi

Quis fazer um bello samba
Do pinheiro fiz viola
Se não vi neve, tenho luz
No peito uma cruz
Como enfeite pérola negra
Poema é como viola
Toda madeira é palavra
Se não for carvalho, isola

Pensei numa flor, escolhi uma rosa
Se não rima, vale uma prosa
É sol. Se chove, sombrinha.
Se não passa, lona
Pega o pandeiro, o tantan, cavaquinho...
Sem samba pode até pagodinho
Importa alegrar a vila
Fazer bater coração
E se faltar partido alto
É só tirar da cartola um Lara laia la...

terça-feira, 9 de junho de 2009

amar é a maré

Quero cantar o amor, sem sacrifícios ou martírios. O mar faz parte, pois o amor é de encantar. Calypso. Ou amarra-se ou morre-se. Não há dura fortaleza que resista ao canto. Como não sou Ulisses, quedo. Me arrebento, me estrago, mas sem vergonha... me abro sem pudor, terror ou temor. Sim... é o amor, que assola sendo ventania ou marola. Faz renascer, faz despertar. Se não quero agruras, desprezo venturas. O amor e ponto. Indizível, impronunciável, indomável, contudo amável. Experimentar o amor sem fazer dele experiência, rotina... apenas memória, retina... também não quero anjos... nem mulheres pálidas, alcoviteiras... apenas amor... e o que é o amor? É o samba... grande... amor... mentira! Acho melhor não dizer mais nada, pois “se perguntarem o que é o amor pra mim, não sei responder, não sei explicar”, mas sei que tenho... e ele é poesia... é labirinto, não instinto... vinho tinto...

sexta-feira, 5 de junho de 2009

A vida é bela

É sabido que a vilania humana supera toda e qualquer expectativa, bem como sua capacidade de concretizar o irrealizável. Diante desse paradoxo, nos vemos entre o horror e a beleza, não de maneira maniqueísta. Na verdade, observamos o antagonismo dialético entre as forças. Ambas nascem da mesma origem: uns apostam em razão, em seu conceito mais kanntiano, outros em razões do coração, pascalinamente falando.
Conceitos e discussões filosóficas não cabem quando nos deparamos com o bem que nos causa o belo. Mesmo com As flores do mal de Baudelaire, o que desejamos é o bem do belo, o bem pelo belo...
Isso posto, me deparo com a tragédia A vida é bela. Não me refiro ao modelo grego de fazer dramas. Da mesma forma não lanço mão de um conceito moderno. Me arrisco e me exponho, por pensar tragédia como a elevação do ser humano; a capacidade catártica de formação pela emoção. Não o choro vazio que externamos, mas o choro profundo que sequer sai, pois fica na garganta e faz com que percebamos o quão pequeno é o humano e grande é a arte.
Uma vez mais nos encontramos em estado paradoxal. Para tanto basta pensarmos no par antitético grande/pequeno. O ser pequeno produz o ser grande. Diante de toda complexidade apresentada pelos humanos, essa talvez seja a maior e mais relevante. Como o pathos pode operar de maneira tão diversificada e manifestar-se de modo a nos deixar boquiabertos?
Teses mil tentam dar conta dessa capacidade humana criadora, fervilhante e intuitiva. Ora valoriza-se a técnica ora a genialidade ou ainda as manifestações além do consciente. Todas essas são tentativas de objetivação da subjetividade, que impõem à arte (poiesis) um caráter cientificista que ela não tem.
Voltemos ao filme de Roberto Beninni. Tendo por enredo uma temática desgastada - ¬¬¬¬a Segunda Guerra Mundial - o filme tenderia a cair no esquecimento, assim como outras produções acerca do mesmo fato histórico, dentre as quais lembramos Pearl Harbor, que t¬ambém poderia se chamar Muito dinheiro por nada, uma paródia a outro longa americano.
No entanto o filme italiano não comete os erros vistos em superproduções. Ao invés de tentar remontar as imagens horrendas do maior conflito bélico do qual temos notícia, os diretores recriaram realidade a partir daquela manifestação de real. Procuraram não a fotografia anacrônica do momento, pelo contrário, fizeram brotar vida de um dos momentos mais desprezíveis da humanidade. Certamente ignoramos, aqui, o caráter positivista dado pelos futuristas à guerra. A higiene do mundo pensada por Marinetti e sua turma justificou as atrocidades nazi-fascistas. Digo isso apenas para não passar em branco, sem um exemplo plausível.
Este texto nasce após eu ter assistido o filme pela quinta vez. Os realistas cobrariam do autor a verossimilhança necessária para que o filme fosse aceito como denúncia ou uma obra engajada, como acontece na maioria dos filmes sobre o assunto. O normal é idealizar os aliados, culpar os alemães e italianos, bem como vitimizar os judeus e as minorias excluídas. A vida é bela anda na contramão daquilo que é consensual, mesmo havendo um quê de senso comum, como a entrada do Tanque de Guerra americano em uma de suas cenas finais.
Mais do que mostrar a guerra pelo olhar de quem ganhou, os diretores multiperspectivam o conflito, deixando claras suas conseqüências. Contudo reinventam a historiografia, ao apresentarem o episódio mediante o olhar de um pai louco por seu filho, e, num plano lúdico, pelo olhar perdido, sem horizonte, de uma criança indefesa.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

sorriso amargo

Este blog, apontadonariz.blogspot.com, é sem dúvida uma válvula de escape. Escrever é fugir. Uma tentativa, sempre frustrada e frustrante, de traduzir o intraduzível. À moda de Clarice: um drama. Algumas questões ainda me incomodam e de modo catártico me emocionam, evitando que o que pulsa em mim se torne pedra ou seco. Impossível não lembrar de Graciliano e suas personagens híbridas, bicho-humanas. Hoje acordei meio Baleia; necessitando caçar preás e dividi-las com quem não tem nem calango para dar mate à fome. Lá vem mais uma referência. A união Vinicius-Chico-Garoto resultou em “Gente humilde”, porém não se deve apenas chorar. O envolvimento estético suplantou o ético. Talvez seja o humor; quero mais que isso. Talvez seja o ódio: de mim e de minhas roupas (Drummond) e de minha classe e de meu mundo. Hoje vi a fome, vi a dor, vi sofrimentos até então desconhecidos. E tudo que vi, ficará cá dentro, remoendo, destroçando todo vestígio de ser pensante que há em mim, pois jamais darei conta do visto; nunca conseguirei transmitir o que vi. Queria fazê-lo, mesmo de maneira romântica, para transportar as dores alheias, que estão em mim, para os que estão fora de mim: impossível. Morrerei com isso e isso não morrerá. É muito simples me abancar, lançar mão de meu computador e tecer meia-dúzia de palavras vãs. Mas aquela dor... aquela fome... são complexas... nelas não há simplicidade... a um cérebro se engana com palavras... um estômago... a um estômago não é tão fácil iludir... o suco gástrico não deixa... queima... arde... dói... faz barulho... a uma boca inchada por dentes cariados e inflamados... não se engana com água ou sono... “inútil dormir, a dor não passa”... a dor se resolve com amoxicilina, mas custa... não importa se barato ou caro... o fato de custar, em si, já custa... há uma dor maior: a pobreza... que de abstrata tem apenas a classificação gramatical... Remontado a um texto, da época de secundarista, cuja autora é, salvo o engano, Marilita Pozzoli, posso dizer... se dor, fome, miséria, penúria, angústia são substantivos abstratos... onde pisei e o que vi não possuem classificação gramatical... pois tudo era deveras concreto... sim... é necessário fazer uma outra reforma seja na gramática seja no humano...

terça-feira, 19 de maio de 2009

tão

esquisito
estranho
tacanho
mosquito


calo.

folhas, vidros e livros

por espanto, me encanto
e canto a melodia que alguém já cantou
repito o que digo, desdigo o que não disse
e por mais que me abrisse, pouco me notavas
e por mais que me notasse, pouco te abrias
e se te abrisse, verias o quanto te queria
problema é pretérito, ou seu futuro
hipótese conjugável... análise primordial das vidas afins...
ser assim é que não se quer
porém o que é querer?
verbo tosco, torpe, vadio, corruptivo,
contudo ativo e (por que não) belo
se o olhar já não enxerga mais, tanto faz
pois dele se fez loucura
com bravura

e que toda cegueira, não as passageiras,
assevere a visão e destruição dos nós.

domingo, 17 de maio de 2009

She makes me wonder!

O que escrever? Pergunta recorrente se pensamos o motivo. Sem culpas, des-culpas. Invalido a existência da hesitação pois não há meio-termo. Não é maniqueísmo! É necessidade. De que adiantam questões dialéticas quando se tem fome? De que adianta adiantar ou uma conjugação perfeita, uma vez que sem proteínas nada vai adiante. Complexo pensar, pois pensamento também não dá conta. Hobbesbawn? Não. Nunca houve uma era de revoluções, mas sim pequenas metamorfoses, nunca completas, pois a essência é a mesma: morfo. Romper com o quê? Ligar-me a quê? Contaram-me uma história de amor, pra quê? O prazer venal também é venérico. E o amor de almas, esse deixo para os “crentes”, que acreditam no vazio, e mesmo assim pensam estarem cheios. Uma penca de antíteses, sinal de confusão, perdição, contradição. Claro que não. Se não há verdades, como contrariá-las? Há linguagem e não antilinguagem, pois sendo o que é já é linguagem. Nos reduzimos ao absurdo. Nos devoramos com os olhos, mãos, armas e com o tédio...

Sim... parei para pensar. É assim que aprendemos. Ao invés de recursos sintáticos, pausas... coitados dos gagos... essas devem aterrorizá-los... mas pensei e lembro-me de um samba, que se não é dos melhores, é melhor por ser samba. Sou autocrata, o samba é melhor porque é dom, não é enlatado, pode ser quadrado, mas isso a gente arredonda.

O samba diz assim “tire o teu sorriso do caminho que eu quero passar com a minha dor”... não sofro, pelo contrário. Parafraseando o poeta. Tudo vai bem e o coração também. Coitado, era cardíaco e o coração parou. O samba me chegou, porque vem vem de Mangueira; para dar cabo desse meu vazio, ofusca minha retina com os cantos, pois não tem jeito, há de se saber sofrer, porque é assim, sem lamentos, e há sempre de ser: “a mão que faz a bomba, faz o samba”.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

sorriso amarelo

era pra ser singelo
porém, não passas de um sorriso amarelo
que é por medo, por fim, solidão

sai de casa pra ver
o obsoleto jardim de flores murchas
que se fez em mim, então

não se desfaz a cor
é natural que seja assim
a amarelice amarelou a mim

isso, sei de cor
e sem "argumento" legal
se foram sorriso e flores. Se achegou o mal

quinta-feira, 26 de março de 2009

mudança (objeto)

a vida não é bela
é inconsútil
amor e dor
palpável
a vida muda
o real
fantasia é real
o fantástico
penso em tudo
sentado
numa
cadeira
da universidade

Vasco

Há oito anos, o Brasil (por que não o mundo?) assiste a queda de um gigante; acompanha a agonia de seus súditos. É deprimente perceber que aquele que exalava respeito e temor tornou-se presa fácil para o mais combalido adversário.
Feudo durante décadas, o grandioso Clube de Regatas Vasco da Gama morre a cada jogo um pouco por dia. Os últimos golpes foram desferidos pelos dóceis Ipatinga e Figueirense (em casa, no antigo caldeirão temido, hoje não mais) e atingiram fundo a alma desse Titã. Se não guardasse agora meu coração e se não escrevesse em cima de minha conturbada razão, diria Semideus, ou ainda Deus. Como ser vascaíno dói! Após anos de mandos e desmandos em obscuras administrações, o Gigante da Colina passa por um processo de renovação, com uma aparente volta à democracia, lembrando o tempo em que fazíamos história, por sermos pioneiros ao prestarmos favores à humanidade. O desafio maior de nossa nova diretoria é pôr o Vasco em seu devido lugar e principalmente retirá-lo das páginas policiais: o que muito machuca os corações vascaínos e que, durante tempos, afastou outros tantos infantis que, segundo a célebre frase, imortalizam nossas glórias.
Como o bom poeta e vascaíno Drummond, torcerei até o fim dos acréscimos por um tento, seja de quem for, desde que seja nas redes adversárias. Contudo como diz o próprio poeta itabirano: “de tudo fica um pouco”. De todo o descaso, de toda desorganização, de toda falta de caráter, ficou um time aquém de nosso expresso vitorioso, de nossos libertadores.
É duro ver ídolos como Edmundo, Pedrinho e Odvan (sim! O zagueiro-zagueiro é meu ídolo. Deixou um par de títulos lá, alguém se lembra? – Eu me lembro!), agonizando, definhando em meio a um mar de mediocridade. A culpa não é dos medíocres que jogam, mas dos medíocres que os contrataram.
Escrevo esse texto, carregado por um sentimento estranho. Talvez seja o fantasma do rebaixamento que nos ronda e me assusta, contra o qual torcerei até o último segundo. Se esse acontecer, choraremos, passaremos por tempos difíceis, mas pretendo (devemos) encará-lo como a morte para o renascimento, como a fênix grega. O desejo não é que o Vasco volte a ser forte, mas sim que o Vasco renasça e possa vir a ser o que sempre foi: “minha vida, minha história, meu primeiro amigo”. Despeço-me com um abraço fraterno a toda enorme família vascaína e com as palavras do vascaíno Carlos Drummond de Andrade. Uno aqui duas paixões arrebatadoras: Poesia e o Vasco, pois o Vasco é Poesia.
E viva, viva o Vasco: o sofrimento
há de fugir, se o ataque lavra um tento.
Time, torcida, em coro, neste instante,
Vamos gritar: Casaca! ao Almirante.
E deixemos de briga, minha gente.
O pé tome a palavra: bola em frente.
Os versos pertencem ao poema "A Semana Foi Assim", que se encontra reproduzido à página 91 do livro Quando é Dia de Futebol, Ed. Record, 2002.


P.s.: Este texto foi escrito em outubro de 2008.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

sem fim, fim

somos a falta que fez
sem preceitos: dor
irremediável partida dos sonhos
tudo finda-se pelo impacto
botão em flor

a falta busca motivo
escondido verso a mente
confusa que canta a vida difusa
todos são o visto e parecido
a loucura é o encontro da procura
tenazmente voou
fim, dias.

Caroline

indagaram-me
sobre o amor, existência,
tamanho e adjacentes.
disse: - o amor não é.
se sente
se há ou não,
descubra o teu
o meu tem nome
tamanho?
perto de 1,60 m

olhos baços

do mar, sal; do pescador, cansaço
apenas canção oblivia saudade; ela ri.
chega um tempo, maresia vira gozo
casas, asas; poesia é toca e toca
zoa o vento que soa, e comigo mexe
rimas, é som bom; tudo na memória há
sonho o amor: infinito azul ondulado

casca

Nos últimos dias, cogito muito acerca da linguagem e suas implicações. Isso se deve a um questionar constante. Sem dúvida, um problema de identidade. Tanto para quê... graduação... sentimentalidades... construções afetivas... formação profissional... reconhecimento... de que serve tudo isso... por que hei de fazer... se o nada é a referência última. Escrever alivia, contudo não transforma a tensão em algo bom. Como cogito, especulo. Percebo no ar um clima estranho. Muitos são os dilemas... falta... temos tudo a apenas um toque dos dedos, e não conseguimos dar as mãos. O que falta? O sonho liga a realidade aos nossos desejos mais secretos... talvez falte sonho, porque a realidade não nos contempla... poderia fazer mil e uma indagações... mas fico com uma: Como lidar com a linguagem...? Tudo é o que dizemos ser... Tudo se dá pelo nome e conceito que atribuímos... Fácil pensar assim e me livrar dos sentimentos... a literatura é um meio de ultrapassar a realidade, por conceder a criação de outros mundos pelo universo ficcional... os sentimentos marcam por causarem o desequilíbrio diante da possibilidade da desmesura passional. Creio que todos somos paixões... absurdas, ocultas, desejantes, figurantes, contudo paixões. Escrever é me expor... então me exponho... mas rio, pois me permito ludibriar. Jamais se saberá se o que escrevo é verdade ou mera manifestação da linguagem... Não sou o que sou... sou o que digo que sou. Tantas palavras, pouca explicação... boa é a ilusão de que o mundo se resume a esquadros... janelas, portas ou televisões... Estar iludido é o estado a ser conquistado... Me faço pelo texto que faço... Aqui, como Wilde, renego questões éticas, pois o que me importa é a forma, a beleza, o rendimento estético... Mas se pensamos concretamente, vemos que forma já é conteúdo. Pois na forma se concentra o luxo, no conteúdo, o lixo. Não sou triste, pois isso já é um conceito... da mesma forma não sou alegre... como não direi que sou poeta, uma vez que esse é o maior dos conceitos, pois inventa todos os outros... posso dizer que sou menor, porém abraço o mundo e as coisas... difícil é abraçar pessoas... elas não entendem... ninguém entende... então ficamos num plano superficial dos beijos e abraços artificiais... não nos entregamos à imaginação, tampouco à especulação... não ouvimos o silêncio... não olhamos para fora... nosso ego é infinitamente maior do que nós... Uns desejam ser cavaleiros da verdade, outros de Deus, outros da ciência... mas o que é verdade, Deus ou ciência? Meros conceitos inventados por nós e linguagem...

nós

Oi, Meu nome é Anderson, 25 anos. Me vejo forçado a iniciar esse texto com essa intro-apresentação. Não tenho pretensões. Não penso ou escrevo à moda de Montaigne. Não quero fazer um auto-retrato para entender o todo pela parte. Na verdade, o inverso.

Depuração

Quantas são as pernas do mundo? Em quantas esbarro, mas não toco? Não toco, porque me entoco. Toca é imanente à minha espécie. Tatu? Não; homem? Não; homem-tatu. Trancafiado na prisão que sou, pago pelo crime de não conseguir “manter contato na praça de convites”. Se me liberto do labirinto que represento, me deparo com o labirinto que faz o mundo. O mundo e as coisas são o desfazer-se. O homem, em virtude disso, é naturalmente composto por contradições complementares: santo-pecador, negro-branco, óleo-água, ser e não-ser. Se é, não reconhece a potencialidade e essência do outro. Na busca esmerada da perfeição, se esquece de vislumbrar os interesses e gozos alheios que também são seus. Sendo assim, a introspecção instaurada pelo isolamento inevitável pauta ações, reações, bem como o estado de inércia. Poderia dizer vida é texto. O que é a vida senão um imenso tecido. Quem tece, dá os pontos ou o rasga? Quem proporciona o encantamento das ilusões perdidas e das desilusões achadas?... vazio, crise existencial, ética. Contradições perpassam a existência: vida-morte; tudo se dá pela necessidade de enxergar sempre algo a mais do que o visto. Segundo Pascal, por seu caráter dubitativo, o ser humano tende à monstruosidade. Descrente de si e dos outros, isola-se. Não resolve e se afoga em divagações. Contudo o filósofo francês crê na redenção, mediante o encontro com Deus. Não tenho esse problema. Minhas inquietudes não desembocam em obviedades, pois sei que “a estrada é muito cumprida/ o caminho é sem saída/ curvas enganam o olhar”. A possibilidade de não afetar as pessoas configura uma preocupação constante. Ter a desconfiança aguçada inspira um comportamento sempre “pé atrás”. Assim, perdemos a sinceridade do sorriso, por pensarmos nos pensamentos que se escondem nessa sublime expressão. Me vem à memória uma canção portuguesa acerca dos “laços”. Talvez todo o enigma esteja na fraqueza dos “nós”. É complexo descobrir-se avesso a tudo, por ser o avesso de si mesmo. Mera rebeldia? Não; leitura. O mundo se oferece como aberto, os seres, humanamente fechados. Volto ao sorriso que, se existe alma, é uma porta aberta para a sensibilidade e sensibilização. Remontar-me, desfazer-me, despejar-me... enfim, me expor. É difícil ser sem deixar de ser, ou deixar de ser sendo. Niilismo é só uma maneira de querer esperança. Porém querer é um verbo pequeno por demais. Viver é mais que texto. Trazendo Calderon à baila, “a vida é sonho”. Sonho é linguagem que ultrapassa realidade. E é no inconsciente que realizamos os desejos mais secretos, as vontades mais sórdidas ou as inquietudes mais sublimes.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

casa

Do décimo primeiro andar da Uerj observo o movimento. Contudo me atrapalha a leve brisa no rosto. Se fosse um tufão, talvez revirasse a vida. Como é uma simples viração, apenas faz cócegas no âmago e causa reflexão. Avisto prédios, pessoas e favelas (todas iguais). De longe, do alto de minha indiferença, não notaria se os barracos estivessem de ponta-cabeça. De perto, não me aproximo. Proximidade afeta. É dolorido explicar o asco que produz o concreto. Reproduzo o que produzo. Olho para o lado da Tijuca. Tudo deveria ser simples, mas não é, pois não é nada; não há nada, se quer houve. Todavia, prédios variados e enormes, porém os mesmos. A diferença entre eles consiste nas pessoas que não vejo. São apenas moradores. Digo Tijuca (acredito que é para lá que olho), mas poderia ser Mangueira. Não; Mangueira jamais. Lá brota luz que reflete o zinco. Sobram sangue e suor. No concreto falta vida, sobram sangue, suor e esforço... outras coisas. “As coisas”. Lá vai um táxi, outro táxi, ainda outro, mais... trinta e oito táxis em setenta e nove segundos... Exatidão questionável, não o sentimento... Se é mentira se é verdade... fica a cargo de quem? E tudo me provoca uma vontade única: descer, tomar meu trem e voltar para “algum lugar”.

pertences

armários fechados, não há chave
sentimentos dentro, pensamentos fora
a luz perdeu-se
no escuro de teus olhos,
cabelos lábios desencantados,
sem canto o encanto se vai pelos cantos da rua
abandonada, só, destituída, lua
assim nos queremos afastados
sem viagem, chão (mofo)
morrer estando morto em ciclo desaconchegados
viver o que se esvai no infinito
de palavras e finito de dois amores

o jardim

Imenso esforço para remontar aquilo que fomos. A frouxidão dos abraços intriga. O desencontro desarma a esperança de ver-te. Vou ao jardim... frio... inverno glacial, no entanto o coração teima em bater. No jardim, chafariz... seco. Sem temores mais agudos, lanço o olhar para o horizonte. Não vai longe, uma vez que a visão é barrada por uma grade revestida por um plástico com uma textura quase indefinível. Folhas no chão, galhos aparentemente mortos. Que seria vida em meio a um clima e sentimento abafados? Volto ao jardim, cuido de uma flor que, à maneira de Drummond, é apenas flor. No jogo incessante da linguagem, é flor sem classificações ou qualificações, sem nome em latim, sem adjetivo palpável. Diferente da flor itabirana, não rompe o asfalto, como não rechaça ou ameniza a náusea. Ilusão da consciência desiludida ou desilusão da consciência iludida. Poderia ser uma borboleta. É uma flor. Poderia ser... mas é apenas aquilo que não pode deixar de ser: essência, eflorescência. E por que falar de flor? Dói. Viver, ciclo. Schopenhauer nos trancafiou em um labirinto sem paredes ao desfazer a idéia egocêntrica de morte. Tudo permanece, pois o fim de um não implica a finitude do todo. Aprisionados na dor que é viver, e não podendo findar o sofrimento, canibalizamos nossas expressões, e por que não o texto do filósofo alemão. Se um resiste é possível que façamos dele espécie. Talvez regar a flor, fazer jardim de um só broto. Não se deve mensurar ou nomear o porquê das flores, da água, do choro... sem medo. Esse ficou naquele “congresso internacional”. Pueril? Pois sou. Esqueço que crescemos e abandonamos a pretensa fantasia de ser feliz. Botão é flor.

aporia

Começo a escrever e me permito não ter que chegar a lugar algum... gosto de metáforas... por vezes, as desprezo pelo simples fato de não darem conta do conto. Sinto falta de nada... não há carência a ser preenchida... dizem que as pessoas seguram sua onda bebendo, dançando, se drogando, adorando a Deus e, se é possível, escrevendo... não sou magnânimo... sem vazio... talvez, outros... mas são vazios, portanto indizíveis... também não tenho medos... inverto, subverto... verbos de difícil conjugação, quiçá aplicação... outros quinhentos... lá vai um homem pela rua... sem desejos, perambula. Não vê a noite, não por ser escura... tem olho de gato. Tudo é demais.

Fecha-se o ciclo. O mundo cai. A vida vai. O mundo é só o mundo. Te vejo. Incômodo, pois é tempo de não ver. Ouço a canção que não deveria tocar, não por que seja “a canção que tocou na hora errada”... era pra ser canção nenhuma...

Percebo que todos os meus dilemas são peças, mínimos e ridículos problemas de alguém que inculcou a idéia de pensamento. Negar... ignorar... ser feliz... igualar-me... iludir-me... ignorar-me... para que serve servir... filosofar... versar... tantos são os casos... porém não deixamos ser acaso... controlamos o destino... como se fosse possível dar conta daquilo que não somos... nos perdemos na incessante busca do encontrar... beira a patetice ser pateta... não há escolhas... olho para o lado e vejo aquele homem que vai pela rua sem desejos... desejo ser o perambulante... mas já aí, percebo a tristeza de ser o que dizem que sou... no desejo de ser sem desejo há uma implicação de que não dou conta... melhor ser sem saber que sou... pretensamente me olho... vejo mãos grandes... corpo esquálido... dor de cabeça... (deve ser leitura)... acabo de ver a felicidade... velhos dançando... corpos cansados que dançam e descansam descalços... o meu já vergado... (não beiro a velhice) sentado, pensa que pensa enquanto os poros, passagem... passagem...

Fazer sorrir

e lá vou eu, fazendo de mim
tudo aquilo que desejas ser
me engano no desengano de um "nós dois"
porém o que há é o nada e o "não mais"
quase uníssono
ouço a dor e os pássaros que, por serem o que são,
cantam aquilo que calo, e se canto
é porque algum beija-flor já cantou:

flor
no cabelo,
a beleza
prazer é ver
não sentir
abstrair
sonhar é
ruim não
difícil
solidão.

O racismo explicado aos meus filhos, de Nei Lopes.

Como este é meu primeiro escrito destinado a fazer parte do Sararau, seguirei o conselho de Dona Ivone Lara e vou “pisar neste chão devagarinho”. Este texto não é especificamente acerca da literatura africana, contudo creio acertar a veia desse movimento acadêmico-artístico-internético.
Trataremos aqui de O racismo explicado aos meus filhos, de Nei Lopes. Isso posto, contemplamos o feliz neologismo “sararau”, pois trazemos à baila um compositor e escritor de mão cheia, que faz jus à palavra sarau; e, por ser um estudioso dos insumos culturais oriundos do continente africano, nos deixa à vontade para dispormos do vocábulo “sarará”, segundo a música, imanente a todo brasileiro de sangue crioulo.
É sabido que toda análise resulta em dívidas para com o analisado. Conosco não será diferente, porém nosso intuito é iluminar um consistente trabalho de investigação de nossas raízes e problemas. Por meio de um romance-ensaio, Nei Lopes faz um levantamento acerca da origem das diversas formas de manifestação racista, focando principalmente aquela que vitimiza o negro.
O núcleo do livro é a família do historiador Paulão (negro) e da Doutora Lia (judia). O casal tem dois filhos, brancos como a mãe, apresentando traços étnicos do pai, sendo assim sararás. O enredo se concentra em diálogos travados entre os membros dessa família, nascidos das experiências de cada um.
As conversas são comandadas quase sempre pelo professor Paulão que faz verdadeiras palestras, enriquecendo o conteúdo do texto. No entanto, se pensarmos a construção de um romance, constataremos que as conversas tateiam o inverossímil, quando consideramos os temas abordados e o modo como são travados tais diálogos.
Se encaramos o livro como um ensaio acerca da existência humana e uma de suas mais delicadas questões: o racismo, perceberemos um texto refinado e com uma preocupação ética que deveria fazer parte não só das palestras de Paulão, mas de toda e qualquer assembléia, seja futebolística, política ou sambista.
O livro é composto por 16 capítulos que abordam desde o criticismo ao “racismo cientifico” do século XIX até uma das polêmicas do século XXI: “a questão das cotas”. Nei Lopes faz crítica e literatura em um projeto eticamente eficaz e eficiente, com algumas dívidas estéticas. O racismo explicado aos meus filhos pode apresentar problemas estéticos, contudo presta um serviço incomensurável ao povo brasileiro. Pela composição pluriétnica da família de Paulão, podemos percebê-la como um retrato do Brasil. Sendo assim, o professor explica a todos nós, brasileiros (seus filhos), a dor que é o racismo. Por meio da investigação das origens das questões étnicas, Nei Lopes nos oferece um significativo cabedal de informações sobre nossa gente, de modo genuíno e verdadeiro.
Este texto foi publicado no blog: www.sararau.com.br