quinta-feira, 26 de março de 2009

mudança (objeto)

a vida não é bela
é inconsútil
amor e dor
palpável
a vida muda
o real
fantasia é real
o fantástico
penso em tudo
sentado
numa
cadeira
da universidade

Vasco

Há oito anos, o Brasil (por que não o mundo?) assiste a queda de um gigante; acompanha a agonia de seus súditos. É deprimente perceber que aquele que exalava respeito e temor tornou-se presa fácil para o mais combalido adversário.
Feudo durante décadas, o grandioso Clube de Regatas Vasco da Gama morre a cada jogo um pouco por dia. Os últimos golpes foram desferidos pelos dóceis Ipatinga e Figueirense (em casa, no antigo caldeirão temido, hoje não mais) e atingiram fundo a alma desse Titã. Se não guardasse agora meu coração e se não escrevesse em cima de minha conturbada razão, diria Semideus, ou ainda Deus. Como ser vascaíno dói! Após anos de mandos e desmandos em obscuras administrações, o Gigante da Colina passa por um processo de renovação, com uma aparente volta à democracia, lembrando o tempo em que fazíamos história, por sermos pioneiros ao prestarmos favores à humanidade. O desafio maior de nossa nova diretoria é pôr o Vasco em seu devido lugar e principalmente retirá-lo das páginas policiais: o que muito machuca os corações vascaínos e que, durante tempos, afastou outros tantos infantis que, segundo a célebre frase, imortalizam nossas glórias.
Como o bom poeta e vascaíno Drummond, torcerei até o fim dos acréscimos por um tento, seja de quem for, desde que seja nas redes adversárias. Contudo como diz o próprio poeta itabirano: “de tudo fica um pouco”. De todo o descaso, de toda desorganização, de toda falta de caráter, ficou um time aquém de nosso expresso vitorioso, de nossos libertadores.
É duro ver ídolos como Edmundo, Pedrinho e Odvan (sim! O zagueiro-zagueiro é meu ídolo. Deixou um par de títulos lá, alguém se lembra? – Eu me lembro!), agonizando, definhando em meio a um mar de mediocridade. A culpa não é dos medíocres que jogam, mas dos medíocres que os contrataram.
Escrevo esse texto, carregado por um sentimento estranho. Talvez seja o fantasma do rebaixamento que nos ronda e me assusta, contra o qual torcerei até o último segundo. Se esse acontecer, choraremos, passaremos por tempos difíceis, mas pretendo (devemos) encará-lo como a morte para o renascimento, como a fênix grega. O desejo não é que o Vasco volte a ser forte, mas sim que o Vasco renasça e possa vir a ser o que sempre foi: “minha vida, minha história, meu primeiro amigo”. Despeço-me com um abraço fraterno a toda enorme família vascaína e com as palavras do vascaíno Carlos Drummond de Andrade. Uno aqui duas paixões arrebatadoras: Poesia e o Vasco, pois o Vasco é Poesia.
E viva, viva o Vasco: o sofrimento
há de fugir, se o ataque lavra um tento.
Time, torcida, em coro, neste instante,
Vamos gritar: Casaca! ao Almirante.
E deixemos de briga, minha gente.
O pé tome a palavra: bola em frente.
Os versos pertencem ao poema "A Semana Foi Assim", que se encontra reproduzido à página 91 do livro Quando é Dia de Futebol, Ed. Record, 2002.


P.s.: Este texto foi escrito em outubro de 2008.