quarta-feira, 17 de junho de 2015

Condicionais

E se eu fosse negra?
E se eu fosse mulher?
E se eu me chamasse Claudia?
E se eu fosse menino?
E se tivesse sonhos?
E se eu me chamasse Eduardo?
E se eu fosse pobre?
E se eu tivesse filhos?
E se eu me chamasse Amarildo?
E se eu tivesse fome?
E se eu não estudasse?
E se eu amasse?
E se eu vivesse?
O se só deixará de ser condicional, 
se houver o outro que sou eu, se assim eu me permitir.

Papo do menor

Eu acredito que ainda viverei 
num mundo onde não terei que provar a todo momento 
que sou inocente, que não sou traficante, 
que não é pelo fato 
de eu morar em um espaço pobre, 
por ser pobre, que mereço levar um tiro, 
ter minha família, sempre excluída, exposta. 
Sou pobre, sou humano. É óbvio, mas muitas vezes... 
Muitas vezes, é preciso dizer. 
Não atire em mim...
Eduque-me, me ame, 
me abrace.

Homo

Lá estava um corpo no chão...
braços abertos... não causou polêmica.
brincava com moda e bonecas... causou polêmica.
Era homossexual... causou polêmica.
A violência contra ele.. não causou polêmica.
A luta é necessária,
uma vez que se não há um deus para o Rafael,
pelo menos justiça deve haver.
Seu corpo já foi enterrado,
seu desejo violentado.
E sabe o que mais dói, Rafael?
É que tem muita gente vendo isso como castigo.
É que tem muita gente dizendo que é doença.
É que essa morte não é apenas uma morte,
Pois é uma violência contra o gênero, contra a identidade,
Contra os sonhos.
E nesse momento, Rafael, tem muita gente com medo de sonhar,
de se expressar, de ser o que é, porque a sociedade puritana não quer.
Rafael, um abraço!
E se existir um deus aí, onde você está, diz pra ele que grande parte dos brasileiros está todo dia batendo um prego diferente na cruz do filho dele.
Beijo, menino!
Vá em paz.