quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

O racismo explicado aos meus filhos, de Nei Lopes.

Como este é meu primeiro escrito destinado a fazer parte do Sararau, seguirei o conselho de Dona Ivone Lara e vou “pisar neste chão devagarinho”. Este texto não é especificamente acerca da literatura africana, contudo creio acertar a veia desse movimento acadêmico-artístico-internético.
Trataremos aqui de O racismo explicado aos meus filhos, de Nei Lopes. Isso posto, contemplamos o feliz neologismo “sararau”, pois trazemos à baila um compositor e escritor de mão cheia, que faz jus à palavra sarau; e, por ser um estudioso dos insumos culturais oriundos do continente africano, nos deixa à vontade para dispormos do vocábulo “sarará”, segundo a música, imanente a todo brasileiro de sangue crioulo.
É sabido que toda análise resulta em dívidas para com o analisado. Conosco não será diferente, porém nosso intuito é iluminar um consistente trabalho de investigação de nossas raízes e problemas. Por meio de um romance-ensaio, Nei Lopes faz um levantamento acerca da origem das diversas formas de manifestação racista, focando principalmente aquela que vitimiza o negro.
O núcleo do livro é a família do historiador Paulão (negro) e da Doutora Lia (judia). O casal tem dois filhos, brancos como a mãe, apresentando traços étnicos do pai, sendo assim sararás. O enredo se concentra em diálogos travados entre os membros dessa família, nascidos das experiências de cada um.
As conversas são comandadas quase sempre pelo professor Paulão que faz verdadeiras palestras, enriquecendo o conteúdo do texto. No entanto, se pensarmos a construção de um romance, constataremos que as conversas tateiam o inverossímil, quando consideramos os temas abordados e o modo como são travados tais diálogos.
Se encaramos o livro como um ensaio acerca da existência humana e uma de suas mais delicadas questões: o racismo, perceberemos um texto refinado e com uma preocupação ética que deveria fazer parte não só das palestras de Paulão, mas de toda e qualquer assembléia, seja futebolística, política ou sambista.
O livro é composto por 16 capítulos que abordam desde o criticismo ao “racismo cientifico” do século XIX até uma das polêmicas do século XXI: “a questão das cotas”. Nei Lopes faz crítica e literatura em um projeto eticamente eficaz e eficiente, com algumas dívidas estéticas. O racismo explicado aos meus filhos pode apresentar problemas estéticos, contudo presta um serviço incomensurável ao povo brasileiro. Pela composição pluriétnica da família de Paulão, podemos percebê-la como um retrato do Brasil. Sendo assim, o professor explica a todos nós, brasileiros (seus filhos), a dor que é o racismo. Por meio da investigação das origens das questões étnicas, Nei Lopes nos oferece um significativo cabedal de informações sobre nossa gente, de modo genuíno e verdadeiro.
Este texto foi publicado no blog: www.sararau.com.br

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