sábado, 28 de fevereiro de 2009

casca

Nos últimos dias, cogito muito acerca da linguagem e suas implicações. Isso se deve a um questionar constante. Sem dúvida, um problema de identidade. Tanto para quê... graduação... sentimentalidades... construções afetivas... formação profissional... reconhecimento... de que serve tudo isso... por que hei de fazer... se o nada é a referência última. Escrever alivia, contudo não transforma a tensão em algo bom. Como cogito, especulo. Percebo no ar um clima estranho. Muitos são os dilemas... falta... temos tudo a apenas um toque dos dedos, e não conseguimos dar as mãos. O que falta? O sonho liga a realidade aos nossos desejos mais secretos... talvez falte sonho, porque a realidade não nos contempla... poderia fazer mil e uma indagações... mas fico com uma: Como lidar com a linguagem...? Tudo é o que dizemos ser... Tudo se dá pelo nome e conceito que atribuímos... Fácil pensar assim e me livrar dos sentimentos... a literatura é um meio de ultrapassar a realidade, por conceder a criação de outros mundos pelo universo ficcional... os sentimentos marcam por causarem o desequilíbrio diante da possibilidade da desmesura passional. Creio que todos somos paixões... absurdas, ocultas, desejantes, figurantes, contudo paixões. Escrever é me expor... então me exponho... mas rio, pois me permito ludibriar. Jamais se saberá se o que escrevo é verdade ou mera manifestação da linguagem... Não sou o que sou... sou o que digo que sou. Tantas palavras, pouca explicação... boa é a ilusão de que o mundo se resume a esquadros... janelas, portas ou televisões... Estar iludido é o estado a ser conquistado... Me faço pelo texto que faço... Aqui, como Wilde, renego questões éticas, pois o que me importa é a forma, a beleza, o rendimento estético... Mas se pensamos concretamente, vemos que forma já é conteúdo. Pois na forma se concentra o luxo, no conteúdo, o lixo. Não sou triste, pois isso já é um conceito... da mesma forma não sou alegre... como não direi que sou poeta, uma vez que esse é o maior dos conceitos, pois inventa todos os outros... posso dizer que sou menor, porém abraço o mundo e as coisas... difícil é abraçar pessoas... elas não entendem... ninguém entende... então ficamos num plano superficial dos beijos e abraços artificiais... não nos entregamos à imaginação, tampouco à especulação... não ouvimos o silêncio... não olhamos para fora... nosso ego é infinitamente maior do que nós... Uns desejam ser cavaleiros da verdade, outros de Deus, outros da ciência... mas o que é verdade, Deus ou ciência? Meros conceitos inventados por nós e linguagem...

Nenhum comentário:

Postar um comentário