quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

o jardim

Imenso esforço para remontar aquilo que fomos. A frouxidão dos abraços intriga. O desencontro desarma a esperança de ver-te. Vou ao jardim... frio... inverno glacial, no entanto o coração teima em bater. No jardim, chafariz... seco. Sem temores mais agudos, lanço o olhar para o horizonte. Não vai longe, uma vez que a visão é barrada por uma grade revestida por um plástico com uma textura quase indefinível. Folhas no chão, galhos aparentemente mortos. Que seria vida em meio a um clima e sentimento abafados? Volto ao jardim, cuido de uma flor que, à maneira de Drummond, é apenas flor. No jogo incessante da linguagem, é flor sem classificações ou qualificações, sem nome em latim, sem adjetivo palpável. Diferente da flor itabirana, não rompe o asfalto, como não rechaça ou ameniza a náusea. Ilusão da consciência desiludida ou desilusão da consciência iludida. Poderia ser uma borboleta. É uma flor. Poderia ser... mas é apenas aquilo que não pode deixar de ser: essência, eflorescência. E por que falar de flor? Dói. Viver, ciclo. Schopenhauer nos trancafiou em um labirinto sem paredes ao desfazer a idéia egocêntrica de morte. Tudo permanece, pois o fim de um não implica a finitude do todo. Aprisionados na dor que é viver, e não podendo findar o sofrimento, canibalizamos nossas expressões, e por que não o texto do filósofo alemão. Se um resiste é possível que façamos dele espécie. Talvez regar a flor, fazer jardim de um só broto. Não se deve mensurar ou nomear o porquê das flores, da água, do choro... sem medo. Esse ficou naquele “congresso internacional”. Pueril? Pois sou. Esqueço que crescemos e abandonamos a pretensa fantasia de ser feliz. Botão é flor.

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