sábado, 28 de fevereiro de 2009

nós

Oi, Meu nome é Anderson, 25 anos. Me vejo forçado a iniciar esse texto com essa intro-apresentação. Não tenho pretensões. Não penso ou escrevo à moda de Montaigne. Não quero fazer um auto-retrato para entender o todo pela parte. Na verdade, o inverso.

Depuração

Quantas são as pernas do mundo? Em quantas esbarro, mas não toco? Não toco, porque me entoco. Toca é imanente à minha espécie. Tatu? Não; homem? Não; homem-tatu. Trancafiado na prisão que sou, pago pelo crime de não conseguir “manter contato na praça de convites”. Se me liberto do labirinto que represento, me deparo com o labirinto que faz o mundo. O mundo e as coisas são o desfazer-se. O homem, em virtude disso, é naturalmente composto por contradições complementares: santo-pecador, negro-branco, óleo-água, ser e não-ser. Se é, não reconhece a potencialidade e essência do outro. Na busca esmerada da perfeição, se esquece de vislumbrar os interesses e gozos alheios que também são seus. Sendo assim, a introspecção instaurada pelo isolamento inevitável pauta ações, reações, bem como o estado de inércia. Poderia dizer vida é texto. O que é a vida senão um imenso tecido. Quem tece, dá os pontos ou o rasga? Quem proporciona o encantamento das ilusões perdidas e das desilusões achadas?... vazio, crise existencial, ética. Contradições perpassam a existência: vida-morte; tudo se dá pela necessidade de enxergar sempre algo a mais do que o visto. Segundo Pascal, por seu caráter dubitativo, o ser humano tende à monstruosidade. Descrente de si e dos outros, isola-se. Não resolve e se afoga em divagações. Contudo o filósofo francês crê na redenção, mediante o encontro com Deus. Não tenho esse problema. Minhas inquietudes não desembocam em obviedades, pois sei que “a estrada é muito cumprida/ o caminho é sem saída/ curvas enganam o olhar”. A possibilidade de não afetar as pessoas configura uma preocupação constante. Ter a desconfiança aguçada inspira um comportamento sempre “pé atrás”. Assim, perdemos a sinceridade do sorriso, por pensarmos nos pensamentos que se escondem nessa sublime expressão. Me vem à memória uma canção portuguesa acerca dos “laços”. Talvez todo o enigma esteja na fraqueza dos “nós”. É complexo descobrir-se avesso a tudo, por ser o avesso de si mesmo. Mera rebeldia? Não; leitura. O mundo se oferece como aberto, os seres, humanamente fechados. Volto ao sorriso que, se existe alma, é uma porta aberta para a sensibilidade e sensibilização. Remontar-me, desfazer-me, despejar-me... enfim, me expor. É difícil ser sem deixar de ser, ou deixar de ser sendo. Niilismo é só uma maneira de querer esperança. Porém querer é um verbo pequeno por demais. Viver é mais que texto. Trazendo Calderon à baila, “a vida é sonho”. Sonho é linguagem que ultrapassa realidade. E é no inconsciente que realizamos os desejos mais secretos, as vontades mais sórdidas ou as inquietudes mais sublimes.

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